Mulheres Hiperperformáticas: Uma Questão de Saúde Psicológica nos Dias Atuais
Vivemos em uma era marcada por velocidade, exigência e resultados. Para muitas mulheres, esse cenário trouxe conquistas históricas – autonomia, espaço profissional, reconhecimento social. No entanto, também trouxe um fardo silencioso: a pressão da hiperperformance.
A mulher hiperperformática é aquela que não apenas cumpre suas tarefas, mas que se cobra ser excelente em todas as áreas da vida: no trabalho, nos estudos, nos relacionamentos, no corpo, na maternidade. É a mulher que raramente se permite falhar, que veste a armadura da força diariamente, mas, por dentro, muitas vezes sente o peso da exaustão, da ansiedade e da solidão.
O que está por trás da hiperperformance?
Na psicologia clínica, entendemos que muito do que sustenta essa busca incansável pela perfeição está enraizado em aspectos inconscientes. Entre eles:
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Medo de vulnerabilidade: a crença de que demonstrar limites ou fragilidade pode ser interpretado como fraqueza.
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Identidade condicionada ao fazer: quando o valor próprio é medido mais pelo que se produz do que pelo que se é.
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Complexo da heroína: conceito que podemos aproximar da psicologia analítica de Jung, no qual a mulher assume, inconscientemente, a tarefa de salvar e sustentar tudo ao redor, esquecendo-se de si mesma.
Essas dinâmicas internas podem levar a sintomas como ansiedade crônica, dificuldade de descanso, sentimentos de vazio e, em muitos casos, depressão mascarada pela “aparência de sucesso”.
O preço invisível da força
Possíveis caminhos de transformação
É possível ressignificar essa experiência. O acompanhamento psicológico oferece um espaço seguro para que a mulher retire a armadura e se reconecte com sua essência. Alguns caminhos incluem:
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Reconhecer o inconsciente em ação – compreender os padrões automáticos que sustentam a hiperperformance.
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Trabalhar a autocompaixão – aprender a se olhar com menos julgamento e mais cuidado.
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Redefinir identidade – descobrir que o valor pessoal vai além de conquistas e produtividade.
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Praticar o descanso consciente – resgatar o direito ao ócio, ao silêncio e ao não fazer.
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Fortalecer vínculos saudáveis – permitir-se ser apoiada, sem medo de perder autonomia.
A psicoterapia não retira a potência da mulher hiperperformática; ao contrário, ajuda a direcioná-la de forma sustentável, transformando a luta silenciosa em jornada de autodescoberta.
Conclusão
Ser uma mulher forte não significa carregar tudo sozinha. A verdadeira força está em reconhecer limites, acolher a própria vulnerabilidade e escolher cuidar da saúde emocional com a mesma prioridade com que se cuida das responsabilidades externas.
Se você se reconhece nessa narrativa, talvez seja o momento de olhar para si com mais gentileza. O primeiro passo pode ser buscar ajuda – e esse gesto, longe de ser sinal de fraqueza, é um ato de coragem e amor-próprio.
Anderson Silva Camargo
Psicólogo Clínico – CRP 06/74188
Responsável Técnico da Global Psi





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